sábado, 28 de março de 2009

A NOVA PIDE


Como nasci em 1948 já tinha 26 anos no "25 de Abril" pelo que cheguei a viver em dois Regimes diametralmente opostos: o Fascismo Salazarista ou Marcelista e a Democracia Partidocratica Socializante.
Nas recordações que tenho dos 10 anos que vivi durante o periodo Fascista, ( dos 16 aos 26 anos), há um nome de má memória que recordo de imediato: PIDE, Policia Internacional de Defesa do Estado. Esta era uma organização tentacular, omnipresente e omnisciente que levava o braço armado e os ouvidos do Estado aos mais reconditos lugares onde pudesse estar escondido um comunista ou "comuna" na giria própria. Chefiada nos últimos anos pelo sinistro Director Major Silva Pais, coadjuvado pelos seus Inspectores Principais tais como os famigerados Barbieri Cardoso e Rosa Casaco, que comandavam um exercito de milhares de Agentes à paisana, que por sua vez controlavam uma gigantesca Rede de milhões de Informadores ou "Bufos" como então eram chamados. Praticamente não havia uma única familia em que um dos seus membros tivesse optado por ser " Bufo", acrescentando assim uns míseros cobres ao seu parco salário, denunciando colegas de trabalho ou informando as mais infimas alterações que detectava na sua rotina diária. Na posse de todas estas informações a Direcção Central da PIDE, cruzava-as umas com as outras, atraves de um sofisticado sistema de "fichas individuais", onde ficavam a saber tudo o que acontecia no Pais, desde as verdadeiras movimentações esquerdistas até aos "podres" individuais de quase todos os Cidadãos. A seu belo prazer faziam prisões arbitrárias pela calada da noite, efectuavam sinistras sessões de espancamento e tortura " da estatua", arrancando assim informações pouco fidedignas, por vezes conjuntamente com as unhas, o vomitado e outros fluidos corporais que eram o resultado colateral de tamanha barbarie, acabando por atirarem os prisioneiros para escuras e húmidas masmorras perdidas algures entre o Estabelecimento Prisional de Caxias ou a Colónia Penal do Tarrafal em Cabo Verde, jogando fora a chave.
Este era o Portugal da minha juventude, constituido por uma multidão de "Bufos" invertebrados responsaveis pela prisão e desaparecimento de milhares de inocentes, muitas vezes pela simples razão de se livrarem de um vizinho incomodo ou afastarem o colega de trabalho que se atravessava na sua promoção. Bastava uma única palavra colocada no ouvido certo, ou pôr a correr um simples boato, para que uma vida fosse destruida, se não pela prisão, pela infamia da DIFAMAÇÃO que se cola ao corpo como uma autêntica carraça.
E foi assim que se chegou à ALVORA DE ABRIL em que esta mole imensa de invertebrados sairam para a rua de Cravo na mão atrás dos Capitães a gritarem: "O POVO UNIDO JÁ MAIS SERÁ VENCIDO!"
Duzentos Capitães que apenas queriam não voltar à Guerra e receber melhores salários, rumaram sobre Lisboa montados nas velhinhas Chaimites a desconjuntarem-se e foram cercar no Quartel de GNR do Carmo o fujão do Primeiro Ministro Marcelo Caetano, que ali se refugiava. O Povo na sua imensa generosidade, apesar de entre eles também estarem com os ditos invertebrados, vendo que a PIDE metera o rabinho entre as perna e se escondera na sua Sede na Rua António Maria Cardoso, perdeu o medo e saiu à rua em massa, aclamando a Revolução, mesmo ainda antes de saber quem a promovia. Durante todo o dia o Capitão Salgueiro Maia foi o rosto de um tal Comande Óscar, " Major Otelo Saraiva de Carvalho", que do Quartel da Pontinha comandava a Revolução, que se afirmava atraves da voz de Joaquim Furtado aos microfones do Rádio Clube Português, como Comando do Movimento das Forças Armadas ( MFA).
Era já quase noite quando surgiu nos ecrãns da televisão a figura austera do Herói de Guerra na Guiné, General António Spinola, que de monóculo e pingalim vinha receber a rendição do antigo Chefe do Governo, para que, segundo palavras do mesmo, o Poder não cai-se na rua.
Começou assim o Regime da Democracia Partidocratica Socializante.
Tal como nas Revoluções na América do Sul os Generais foram sucedendo-se uns aos outros na partilha do Poder. Depois dos sonhos do General Spinola, vieram as indefinições do General Costa Gomes seguidas do extremismo do General Vasco Gonçalves coadjuvado pelo Capitão doble de General Otelo Saraiva de Carvalho. Por fim a 25 de Novembro de 76 veio outro auto-promovido General Ramalho Eanes coadjuvado pelo Tenente Coronel Jaime Neves, Comandante incontestado do Regimento de Comandos na Amadora, única tropa que se mantinha organizada e operacional, que com a maior facilidade pôs na ordem a tropa fandanga de barbudos e cabeludos esquerdistas em que se transformara o Exercito Português.
Depois chegou finalmente a hora dos Civis, com duas eleições Democraticas, uma a 25 de Abril de 75 para uma Assembleia Nacional Constituinte, que pariu a actual Constituição e outra exactamente a um ano depois para a eleição da Primeira Legislativa, que consagra Mário Soares como Primeiro Ministro,depois de Palma Carlos e Pinheiro de Azevedo. Seguiu-se o assassinado Sá Carneiro, que deu lugar a Pinto Balsemão, Mota Pinto, Nobre da Costa, Maria de Lurdes Pintasilgo e finalmente Cavaco Silva, que veio pôr um ponto final por uma década a esta "dança das cadeira" dos Primeiros Ministros.Os fujões António Guterres e Durão Barroso,mais o indesejado Santana Lopes e o actual Sócrates são os nomes que faltam a esta lista, para não falar nos Presidentes democraticamente eleitos que se seguiram a Ramalho Eanes como Mário Soraes, Jorge Sampaio e Cavaco Silva.
Estes foram os OBREIROS do actual Regime que supostamente deveria ser o oposto do anterior. Organizações como a famigerada PIDE não deveriam ter a mais pequena chance de existirem, pois um dos principais Principios salvaguardados na Constituição Democratica é o do direito à Justiça plena e à salvaguarda do bom nome de todos os Cidadãos. Ao que parece e de acordo com as últimas noticias trazidas a lume, há uma Organização Estatal chamada Procuradoria Geral da Républica que tem chamado a si algumas das "perrogativas" da antiga PIDE, ou seja, o direito de mandar prender Cidadãos sem culpa formada, falsificar provas incriminatórias e destruir por completo o bom nome daqueles que são levianamente Constituidos Arguidos apenas com base em simples boatos ou denuncias anónimas infundamentadas como antigamente.
Qualquer Cidadão, Primeiro Ministro ou simples desempregado, que tenha a infelicidade de ser vitima desta teia difamatória, que tem como fiel Porta-Voz Orgãos de Comunicação Social pouco escrúpulosos, verá o seu nome ser arrastado pela lama sem qualquer possibilidade de remissão, mesmo depois de vir a ser absolvido pelo Tribunal competente.
Este Tribunal de Opinião Pública, que tem como principais mentores os ditos Agentes Judiciários e determinados Jornalistas, é uma autêntica nova PIDE, que atira as suas vitimas para um Tarrafal ainda pior do que o outro, sem qualquer chance de encontar a chave.
AFINAL SÓ AS MOSCAS É QUE MUDARAM! ( é claro que isto é na India).

1 comentário:

  1. Vendo as coisas da forma que colocas Carlos,e analisando bem os últimos acontecimentos no nosso Pais,de facto as únicas diferenças entre o antigo Regime e o actual,são os nomes dos nossos politicos. Eu não vivi o que antecedeu ao 25 de Abril e nem me lembro do mesmo,mas o que sei da nossa História Politica é o bastante para ter esta opinião.Vivemos um quase Fascismo mascarado de Democracia.Felizmente ainda vamos tendo direito a expressar as nossas opiniões.

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