segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

ATÉ SEMPRE ISABEL


"Sempre senti que a vida me exigia algo que me transcendia.
Perdida, sem saber porquê.Culpada, por não conseguir chegar a Deus. E afinal...como tudo é tão simples! Deus está dentro de mim,está dentro de ti,na flor que desabrocha,no garoto da rua sujo e esfarrapado, na morte violenta ou na guerra sangrenta."
Isabel Paço d'Arcos
Ela caminha lado a lado com a sua inseparavel "Preta" com o seu olhar perdido na infindavel planicie alentejana nas traseiras do seu quintal...
Foi nos claustros da Estrela onde os amigos vieram dizer o último adeus. A musica ouvia-se baixinho e não cheirava nem a incenso nem estearina. Dir-se-ia que não se estava numa Igreja pois o Templo ali era o coração de cada um de nós. Ao centro as formas simples do caixão, guardavam os restos terrenos daquela que partia em direcção ao infinito. Em cima cada um colocava os simbolos da sua Saudade como se fosse o tampo de um piano onde molduras com fotografias dela, ramalhetes de flores silvestres e poemas de autores que a amaram, não destuavam naquele espaço sagrado geralmente incipido e austero. Até as grandes coroas de flores,que por natureza costumam ser funebres e agoirentas,ali brilhavam como um eterno grito há vida "QUE DA LEI DA MORTE SE FOI LIBERTANDO".
Ninguém faltou! A geração dos meus Pais bem representada pela Manani e Alvarinho Ponte e outros,a nossa esteve em peso desde todos os seus amigos e amigas,como os amigos dos seus irmãos. A Tia Teresa como matriarca da familia encheu-nos de saudades ao fazer-nos lembrar a nossa Mãe que também já partiu e que tanto se assemelha a ela. Com o seu cabelo todo branco a nossa Adelaidona ainda impunha toda a dignidade de alguém que dedicou uma vida à nossa familia e que tão bem cuidou dos últimos dias do nosso Pai. Também ela chorava por dentro enquanto como todos nós sorria por fora ao vêr agora também partir a Isabelinha a nossa Bébe.
Nem missa nem orações em cumprimento da sua última vontade. Apenas palavras singelas e sinceras proferidas pela sua filha Maria e marido e pelos seus irmãos. No final cada um levou para casa a foto e o poema que aqui vemos e as lágrimas que molhavam os nossos corações secaram e abriram-se num rasgar de sorriso ao som de uma espontanea e ruidosa salva de palmas que aplaudia a vida daquela que tanto amam e que certamente continuava a caminhada levando agora a seu lado não mais a "Preta",mas sim o "VELHO, SEU AMIGO NO ALÉM"...

1 comentário: