quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

A MORTE NA IMPRENSA


"MORREU A ESCRITORA ISABEL PAÇO D'ARCOS"... Assim foi noticiado na RTP e nos principais jornais nacionais a morte da minha irmã Isabel.
Curiosamente quando em vida, as pessoas dão tudo mais um par de botas para aparecerem numa fotografia das revistas ou serem noticia dos jornais por qualquer motivo, mas quando da morte parece haver um estranho pudor que geralmente acaba por limitar o papel da imprensa às frias e protocolares participações nas páginas da Necrologia com apenas direito a uma foto tipo passe e uma sinistra cruz negra. Felizmente neste caso a agência Lusa esteve atenta e repassou a noticia do desaparecimento de mais um escritor português.
Á saida do enterro chocou-me assistir a uma cena que é a prova real do que aqui acabou de ser dito. Escondida atrás da carreta funerária estava uma grande tele-objectiva de um qualquer reporter de imagem que procurava assim, fotografar sem ser visto o acontecimento que o seu chefe de redação certamente considerou digno de noticia.
Concordo que a dor da perca de um ente querido e chegado é algo de muito particular e intimo. Devem ser chamados os familiares e amigos para acompanhar de perto as cerimónias funebres tão necessárias para a catarse da dor transformando-a em saudade. Mas a existencia de qualquer pessoa não se limitou só a estes que lhes estiveram tão perto, pois ao longo de uma vida foram deixadas marcas nos vários quadrantes da Sociedade, criando amores e ódios, admiração ou indiferença, o que faz da morte não mais um assunto privado mas sim um assunto público que pode interessar a um leque bem mais amplo do que o dos intimos.
Por muito insipida que tenha sido a vida de uma pessoa certamente que houve algo em que ela foi boa e se notabilizou, pelo que,quanto mais não seja por este motivo, como homenagem o seu desaparecimento deve ser comunicado ao maior numero de pessoas possível. No caso da minha irmã Isabel,foi o desaparecimento de uma escritora.
MORREU A ESCRITORA ISABEL PAÇO D'ARCOS.

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