quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

UM SOL QUE PARTE

De seis irmãos que somos eu que estou no meio tenho uma maior proximidade com a minha irmã mais nova,a Isabel. Sendo a última a nascer foi imediatamente alcunhada com o nome de bebé. Cabecinha enfeitada com caracóis, olhos muito grandes esverdeados e um enorme sorriso onde sobressaia as duas enormes "favolas" dos dentes incisivos superiores que lhe davam um certo ar de Bugs Bunny.
O tempo foi passando e a bebé transformou-se numa jovem mulher,alta,magra e elegante, que não sendo propriamente bonita,tinha o condão de atrair os homens. Á medida que foi crescendo em corpo,cresceu também em espírito, tornando-se numa mulher perspicaz e inteligente mas sobre tudo possuidora de uma esperteza tipo "fura vidas"que a levava a nunca se atrapalhar com os problemas da vida fossem eles quais fossem.
Foi esse desenrascanço,aliado a um espírito de aventura,que a levou após o famigerado 25 de Abril, a emigrar para o Brasil, indo ao meu encontro em São Paulo, conjuntamente com o seu então noivo António Cardoso. Nesta enorme floresta de cimento de 17 milhões de habitantes, para onde eu imigrara uns meses antes,a Isabel e o António ficaram como meus hóspedes em minha casa, situação esta que nos aproximou ainda mais. Lá ,eu apadrinhei o casamento deles,longe dos demais familiares, do qual nasceu a minha sobrinha Maria,hoje uma inteligente mulher detentora de uma beleza de fazer parar o trânsito. Da Mãe herdou a elegância e do Pai o feitio calmo e ponderado tão necessário nos momentos difíceis da vida.
A vida da minha irmã Isabel foi bastante atribulada, nunca parando muito tempo na mesma actividade profissional sempre em busca de algo que ela não sabia o que era mas que sabia existir e que seria essencial para a harmonia do seu espírito sempre cioso de novos conhecimentos.
Essa harmonia acabou por a encontrar no Alentejo,na zona de Monsaraz, para onde se mudou por altura dos seus cinquenta anos de idade, dando assim uma volta de 180º á sua vida que então se encontrava um tanto sem rumo. Ali construiu o seu "castelo",sob a forma de uma autentica casa alentejana, para onde transportou todos os seus móveis, um amontoado de livros,um computador e toda uma vida passada. No lugar do jardim das traseiras,tinha o maior do mundo que se estendia até onde a vista alcança através de cearas que dançam ao vento e montados na linha do horizonte,onde o seu olhar se perdia em busca do INFINITO.
Foram intermináveis esses anos de busca feitos da leitura de centenas de livros e de pesquisas nas mais variadas fontes holisticas que foi tendo acesso.O INFINITO,acabou por o encontrar na pessoa do "VELHO", o seu "Amigo no Além". Com ele iniciou a fantástica aventura da vida transcendental na busca da "PASSAGEM " para outro plano. Estas experiências ficaram imortalizadas, no livro com o nome "Um Amigo no Além", que a Pergaminho Editores publicou no ano 2000,que se esgotou de imediato, cuja capa pode ser vista neste mesmo blog numa inserção situada atrás no meio dos barbudos.
Se há alguém que eu tenha conhecido que acredita verdadeiramente nas suas convicções, sejam elas religiosas,filosóficas ou agnósticas,esse alguém é a minha irmã Isabel Paço d'Arcos, que teve o privilegio de em vida encontrar o seu INFINITO na pessoa do seu VELHO, com quem de mão dada procurará passar para o outro lado. Ao que parece a doença prolongada e o desfecho final faz com que essa passagem não esteja longe. No seu leito de hospital, o que resta do seu corpo terreno aguarda em paz esse momento, que tanta dor e sofrimento trará a nós que a amamos e que seremos obrigados a cá ficar a suportar as saudades...
É UM SOL QUE PARTE...

1 comentário:

  1. Bonita manifestação de AMOR.Não tenho palavras para poder comentar. Fica só este registo. Com carinho

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