quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Estou muito triste! Hoje olhei frente a frente o fantasma da morte...Diante dos meus olhos surgiu-me a imagem de à mais de 10 anos da minha Mãe no leito da morte,cabelo grisalho e desalinhado,pele pálida a cobrir um rosto encavado onde apenas sobressai enormes olheiras de olhos inchados e um olhar de tristeza perdido no nada - Chorei!
No que diz respeito a afectos e à perca destes para a guerra da morte a vida foi madrasta para mim. Ao longo de 60 anos fui vendo partir uma a uma as pessoas de quem gostava e com quem fui capaz de construir profunda amizade.Umas foram levadas precocemente pelos horrores da guerra ou pela imprudência da juventude numa curva qualquer a uma estrada que não levava a lugar nenhum. Outros por doença súbita e inesperada que os apanhou sem qualquer pré- aviso,outros ainda os que padeceram de doença fatal prolongada no âmbito das patologias oncológicas que nunca perdoão. Por ultimo os meus próprios pais que morreram não sei bem de quê,pois a avançada idade já era razão suficiente para eu ter que me resignar a essa fatalidade.
Sempre lidei mal com estas percas,protegendo-me imediatamente num processo de negação que me levava a não me dar tempo para o luto,preferindo enganar-me a mim próprio como se nada tivesse acontecido.Tantas vezes entre os amigos vivos passam-se anos ou décadas em que nada sabemos uns dos outros pois as voltas da vida os projectava para um qualquer lugar perdido algures em lugar nenhum. Foi assim que lidei sempre com as minhas percas como se a qualquer momento o reencontro pudesse vir a acontecer ao virar de uma esquina num dia qualquer.Cheguei mesmo a levar este processo de negação a instâncias absurdas como no caso da minha Mãe,em que devido ao meu complexo de édipo eu (assassinei) toda a sua geração,criando por vezes situações absurdas de reencontrar passado anos amigas suas que á muito eu já considerava enterradas.
- Estou triste! Ou antes sinto a tristeza invadir o meu coração numa catarse final que faz desfilar diante de mim a multidão dos meus mortos. Invoco os seus nomes com respeito:
José Carlos Fonseca e seu alter ego Ulisses meu mestre e amigo; José Almeida Eusébio companheiro da juventude; Frederico Abecassis colega desde a primeira classe nos Maristas;José Sarmento dos tempos da Távola Redonda e das suas festas; Francisco Vinhais e José Amaral Pais da mesma época; Carlinhos Casal Ribeiro das loucuras em Lamego; Pedro Castelo Branco amigo de toda a vida; Por último, mas não forçosamente o último pois outros tantos haviam para acrescentar a esta lista macabra o recentemente desaparecido Bé Costa Quinta com quem tanto desbravei as noites de Lisboa...Estou tiste!!!!

1 comentário:

  1. Você está triste!!.. Mas não é a tristeza um sentimento de VIDA? quando vc recorda os amigos(ausentes por morte ou por espaços fisicos)não está a (re)viver os momentos de Vida juntos? Não fique tão triste pois essas homenagens que se vão fazendo dentro do "recordar" são momentos de alegria e não de tristeza. A ausência é um estado de Vida tb.Tds nós "perdemos" ao longo das nossas vivências, alguém mais ou menos importante , mas "alguém"! Que podemos fazer? nada a não ser enquanto esses "alguém" estão próximos de nós amá-los mais ainda, perdoar as suas falhas(se existirem e existem concerteza já que ninguém é perfeito)ser tolerantes com eles e deixar que percebam de facto o quanto são importantes nas nossas Vidas... Vc sabe disso e portanto... não fique triste e continue a recordar com Amor tds os que já passaram por si e sobretudo tds os que ainda fazem parte de sua Vida, quer presentes quer ausentes fisicamente. Amar tem como contrapartida ser amado e não esqueça que as pessoas PRECISAM saber que são amadas para serem mais tranquilas no enfrentar da Vida! e Viva a alegria de amar sem trstezas...

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