quinta-feira, 23 de abril de 2009

"LIBRETO DA OPERETA DO 25 DE ABRIL" PARTE 2

Em 1974 o Regime Fascista presidido pelo Almirante Américo Tomás e governado pelo Professor Marcelo Caetano estava caduco e á beira do colapso. Salazar já caira da fatídica cadeira há alguns anos e o seu delfim que o sucedeu não se mostrou á altura da tarefa. Foi hesitante, tentando inicialmente uma abertura democrática personificada pelas "Conversas em Familia" que semanalmente o fazia entrar em nossas casas pela RTP, mas não teve coragem de fazer frente à Estrema Direita capitalista que continuava a dominar o País á sombra do banana do Presidente da Republica.
A guerra colonial já durava há 13 anos sugando o dinheiro e o sangue da Pátria, numa luta que já ninguém acreditava, pois todos os antigos Países colonizadores no Mundo, já tinham dado a independência ás Colónias,acabando Portugal por ficar "orgulhosamente só" contra as vozes e os embargos que se levantavam na ONU. O próprio exército tinha como única motivação para combater os magníficos ordenados e demais regalias que recebiam quando estavam numa ZO (zona operacional), ou seja mobilizados para as colónias para combater os Movimentos de Libertação que lutavam em armas pela independência.
A Sociedade Civil vivia aparvalhada a sua vidinha baseada nos valores,"DEUS,PÁTRIA E FAMILIA" que o regime impunha, acima de tudo, aceitando resignada viver sem liberdade de expressão, sem liberdade de associação, em troca do prato de sopa que o fruto do seu trabalho mal pago punha todos os dias na mesa. Os Ricos estavam cada vez mais ricos e resumiam-se a uma meia dúzia de familias que dominavam toda a economia através da Banca e dos Seguros, de tal modo que a especulação era tanta que a Bolsa chegava a subir 10% ao dia.
Foi neste cenário que a meia dúzia de ciganos com facas de ponta-e-mola, perdão, corrijo,as duas centenas de Capitães resolveram fazer um Golpe de Estado, que fez cair o anterior Regime, sem uma única baixa mortal.
Postos os antecedentes voltemos aos factos:
Estava o Capitão Salgueiro Maia no Largo do Carmo cercando o Quartel da GNR onde Marcelo Caetano se refugiara na expectativa que as tropas fieis o viessem resgatar. Como isso não aconteceu por manifesta impossibilidade de qualquer movimento de tropas ou tanques fiéis ao Regime circularem pelas estreitas ruas do Chiado,totalmente apinhadas de Povo que em multidão não os hostilizavam por pensarem serem tropas revoltosas e não do Governo.
Como as portas do Quartel da GNR estavam fechadas a sete chaves, albergando lá dentro o Chefe do Governo e alguns Ministros com o rabinho entre as pernas, não dando qualquer chance de diálogo no sentido de uma eventual rendição,o Capitão Salgueiro Maia impacientou-se e deu ordem para dispararem contra as paredes do edifício. Foi um fartar de vilanagem! A soldadesca inebriada pelo forrobodó dos cravos vermelhos e dos abraços da multidão,desatou aos tiros de rajada de metralhadora contra as paredes do Quartel de um modo quase alucinado, de tal modo que ainda hoje passados 35 anos ainda se pode ver ali os buracos das balas.
Acto continuo, abriram-se imediatamente os portões do Quartel e uma bandeira branca convidou Salgueiro Maia a vir falar com Marcelo Caetano. Este aceitando o convite,perfilou-se em sentido diante do deposto Chefe do Governo e fez continência respeitosamente. Marcelo Caetano ripostou dizendo que sabia que já não governava, mas, para que o Poder não caísse na rua estava disposto a apresentar a sua demissão a um Oficial General, sugerindo mesmo um nome do General Spinola. Salgueiro Maia respondeu que não obedecia a ordens desse General mas sim de um tal Comando OSCAR. Marcelo insistiu e entrou ele mesmo em contacto telefónico com Spinola solicitando a sua presença no Carmo para receber a rendição do Governo. O General, que se encontrava estrategicamente em pijama na segurança da sua casa, (não fosse o diabo tece-las e ele vir a ser preso por participar numa revolução falhada),respondeu ao Primeiro Ministro que não comandava nenhuma Revolução.
Foi preciso que o Major Otelo, em nome do Comando OSCAR telefona-se para o General Spinola pedindo-lhe que fosse em nome do Movimento das Forças Armadas aceitar a rendição dos antigos governantes afim de evitar que ainda viesse a haver derramamento de sangue.
Foi assim que todos assistimos em directo pela televisão à chegada ao Carmo do General António de Spinola de uniforme de gala, monóculo, luvas e pingalim emprestava assim há Revolução toda a sua dignidade e respeito Internacional.
Nessa noite diante dos televisores, Portugal assistiu a uma comunicação ao País feita por uma improvisada JUNTA DE SALVAÇÃO NACIONAL, presidida pelo General Spinola, ladeado pelo General Costa Gomes e outros tantos Oficiais superiores promovidos a Oficiais Generais naquele mesmo dia e local. Foi então apresentado o Programa do MFA, que mais parecia um Manifesto Comunista do que um Programa Democrático, ali era exigido a independência imediata das Colónias, a nacionalização da Banca e dos Seguros, a Reforma Agrária de todos os lactifundios e por último afirmando que "Portugal seria uma Republica cujo o Regime teria que ser rumo ao Socialismo".
Antes de terminar esta segunda parte do Libreto quero esclarecer que a palavra Socialismo na altura não queria dizer o mesmo que hoje, que chega a incluir Governos de Direita como o de Sócrates, mas sim era sinónimo de Comunismo. A comprova-lo basta analisar que o nome completo da União Soviética era URSS, União das Republicas Soviéticas Socialistas.

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